5 de outubro de 2012

Vazio

Um dia desses, minha mãe me pediu um copo d'água pela metade. Eu respondi que era impossível, pois o copo sempre estaria cheio, mesmo que, metade com água e metade com ar. Ou mesmo que cheio de ar. Entretanto, se ela quisesse um copo d'água pela metade, eu seria obrigado a lhe oferecer um kitassato que filtrasse uma determinada água a vácuo e deixasse o recipiente apenas com metade do conteúdo suficiente. Mesmo assim, quando ela abrisse a vidraria para tomar a água, o kitassato se encheria de ar.
Sinceramente, não sei como eu perco tempo com tantas explicações lógicas. Mas também não compreendo como as pessoas perdem seu tempo fazendo afirmações tão estúpidas quanto esse pedido do copo d'água. Todos sabem que é impossível ter algo realmente vazio aqui nesse planeta. A não ser com o auxílio de algum equipamento especial criado para gerar vácuo ou em casos raros da natureza.
Ao mesmo tempo que esses pensamentos idiotas povoam meu cérebro, quantas vezes não me deparei com uma pessoa no metrô (ou no McDonalds, ou no caixa do supermercado, ou na academia) e consegui nitidamente perceber seu olhar vazio? Quem nunca percebeu um olhar sem foco, sem razão existencial?
Olhe no espelho e espere não o encontrar...

20 de junho de 2012

Metaforizador

Minhas palavras sempre saem moldadas, camufladas para atingirem seu alvo por trás. Meu ato de proferir se confunde com um ato de atuar, encenando uma realidade diferente. A metáfora surge como uma necessidade de mascarar as ideias e fazê-las chegar ao interlocutor de maneira mais suave. A metáfora se torna uma máscara necessária para a sobrevivência de um pensamento. Um pensamento que, muitas vezes, não precisaria ser moldado. Mas o medo de que as ideias morram por simples desaprovação é maior... e a metáfora continua. Continua a dar novas formas para aquilo que foi endereçado e datado.
Mas, um dia, a metáfora cai e não é percebida. A poesia acaba e o drama começa. O destinatário não recebe sua correspondência e o prazo de validade expira. A metáfora perde no meio do caminho a sua ideia inicial, que estava por detrás da máscara, e vira verdade. Uma verdade que nunca existiu e, por algum motivo, foi mais conveniente nascer ali, naquele momento da morte da ideia inicial. 
Antagônica à assertividade sem fundamentos (da qual eu tenho tanto repúdio), a metáfora que deveria suavizar os ouvidos do interlocutor, causa mais estragos que uma batida de carros. E lá está o corpo, estendido no chão...

26 de março de 2012

Escolhas

Pensar, sentir, agir, omitir, bater, fugir, acreditar, mentir e muitos outros verbos que caberiam nesta frase são escolhas nossas. A vida é a arte de realizar escolhas o tempo todo (como já diria o grande Claudio Ramires). Inclusive não escolher também é uma escolha: a de se omitir de uma determinada decisão.
Ah! as decisões... não sei quem e quando decidiu (também uma escolha de acreditar e propagar sua crença) de que determinadas escolhas em nossas vidas têm maior relevância que outras. Tais como ganhar dinheiro, estudar algo na faculdade, em quem votar nas próximas eleições, acreditar em um ser ou força maior, família ou saber os babados do Big Brother Brasil (eu sei que estou forçando a barra, já entendi...). Quanta bobagem! Pra mim, todas as escolhas deveriam ter pesos iguais. Mesmo sabendo que, na maior parte do tempo, realizamos escolhas erradas fazendo jus a nossa humanidade. Ainda bem que aprendemos (ou deveríamos aprender) em todas as vezes que erramos. Mas a decepção de assumir o erro nos mata...
E como mata! A cada erro que assumimos (que são muito poucos em relação aos erros que cometemos), a dor na nossa consciência e a auto-vergonha são tão grandes que, de certa forma, ao invés de darem espaço para o nosso aprendizado, apenas nos deixam estagnado nesse estado de "caramba! errei! sou um merda!".
Está aí um bom motivo para dar "pesos e medidas" para nossas decisões. Acho que essa história da importância das escolhas não é bobagem e abençoado seja que teve essa ideia. Mesmo que as decisões "importantes" que listei não sejam de fato essas. Acredito que cada um tem a liberdade de realizar suas próprias escolhas incluindo as justificativas de quais são mais ou menos importantes para si. Afinal, como esse texto, essa tal arte de realizar escolhas deve ser dinâmica, orgânica e bem fluida.
Agora, se você não consegue moldar ou flexibilizar a importância de determinadas escolhas em função do impacto pessoal que seus erros causaram, está na hora de escolher um bom terapeuta.

Behind Blue Eyes