20 de abril de 2010

Alguém me explica, por favor?

Éramos amigos de infância e sim, ele odiava o governo. Assim como a igreja e outras coisas que todo adolescente odiava. Quando sentava na garagem, depois do ensaio, e tomava uma ou duas cervejas, costumava dizer:
"Esse país é uma desgraça. Meu grande objetivo de vida é sair daqui, morar fora mesmo. Foda-se família, fodam-se amigos... aliás, se os amigos forem amigos de verdade eles virão comigo..."
Aliás, costumava dizer assim só que um pouco mais enrolado por causa do álccol e com algumas gírias e palavrões a mais. Mas isso tudo era só uma fase. Coisas de adolescente. Frequentava shows de punk rock, tocava guitarra no último volume até os vizinhos chamarem a polícia, usava all star e roupa preta e rasgada, tinha uma forte atração por filosofia, de preferência, bem pessimista.
Mas um dia ele cresceu, assim como eu. Suas roupas pretas deram lugar às camisas de manga comprida e sapatos, sua guitarra deu lugar ao computador, sua filosofia deu lugar ao futebol e os shows de punk rock deram lugar aos aniversários do chefe da empresa. O ódio pela igreja passou, pois afinal alguém precisava casá-lo, não?, e alguém precisava ajudar na educação de seus filhos, pois as escolas estão cada vez pior, acreditava.
Era um cidadão exemplar, votara em todas as eleições, pagava regularmente seus impostos e não jogava lixo nas ruas. Um dia, precisou do governo e, por sua vez, o governo não retribuiu. Alegou que seu recurso era inválido e, portanto, a ajuda não seria deferida. O ódio, que existira lá nos tempos remotos, começou a surgir.
Daí então, voltou aos shows, às roupas e à guitarra, se revoltou, montou outra banda, compôs um hit de três acordes e muita pancadaria contra o sistema, virou líder e explodiu uma bomba no planalto central e, então, viveu feliz pra sempre. Essa era sua vontade, mas não aconteceu.
Mas o ódio surgira, sim. Forte o bastante para levar por água abaixo todas as suas esperanças no homem. Forte o bastante para acreditar que a vida não valia mais a pena. Mas, isso é coisa de adolescente, não?
Então passou o fim de seus dias se queixando e vivendo uma vida mesquinha e submissa. Ele não era meu amigo, apenas o inventei. Mas tenho certeza de que esta, sim, é uma história real.

2 comentários:

  1. (Reescrevendo.. =S )rs Vou tentar resumirr... Olhaaa!!!!Meo Deosss, não conhecia esse Vinícius... hehe que medo!!rs
    Eu nem sei mais o que pensar dessas coisas, sabe? Se é melhor ser esse adolescente rebelde, porém, vivo, querendo... ou se o adulto acostumado e vencido. Não que isso seja perder as esperanças na vida, mas é que tem vezes que realmente é difícil ir contra a maré... é impossível abraçar o mundo e querer mais! Enretanto, para viver de bem, a gente faz o que deve ser feito, e ponto. Quando eu era mais novo, vivia dizendo pras pessoas: as vacas voam!! haha Ok, dizia isso, mas não era isso que eu queria dizer agora... Eu dizia muito: Quero acertar a vida, antes que ela me acerte... Tem hora que brigar já não resolve mais, e você precisa fazer aquilo que ela quer que você faça, e às vezes nem é tão ruim assim, né? Enfim, mas uma coisa que tem me feito pensar e tenho tentado praticar, é nunca fugir de mim... descobri que só fazendo o que vc realmente gosta, só agindo como vc realmente quer, e libertando-se de todos os preconceitos que vc mesmo cria, é impossivel viver nesse mofo de comodismo e infelicidade!!

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  2. É cara, tenho que dizer que este é um texto que eu queria ter escrito, mas que pela proximidade da história com a minha vida (casamento de uma das minhas duas melhores amigas), teria que ser um daqueles impublicáveis, que depois de 30 anos, caso você se torne um grande escritor, você transforma em conto, ou num 'causo'.

    Acontece mais que gripe, revolta louca enquanto a situação adulta não se abate sobre nossas cabeças. Depois ressaca, cansaço, conformismo. 'A vida é assim' usam como desculpa...

    Não sei qual o meu problema, mas pra mim a vida NÃO é assim! Pensei que com 20 anos nas costas eu seria uma adulta chata, mas segundo minha mãe eu tinha mais 'juízo' aos 12 anos de idade. Bom pra mim.

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