25 de abril de 2010

Preço

"A civilização não é, de maneira alguma, coisa fácil de se atingir, e há apenas duas maneiras por que o homem é capaz de alcançá-la. Uma delas, sendo culto, e a outra, sendo corrupto." (Oscar Wilde)

"Não sei o motivo, mas eles cancelaram nossa compra."
"Como assim? O limite e número do cartão, os dados pessoais, o endereço estão corretos. Impossível!" eu fiquei impressionadíssimo com a notícia.
"Acredite... o pessoal da empresa de vendas disse no e-mail que tentaram entrar em contato por telefone. Mas não vi chamada nenhuma. Desculpe, a culpa foi minha. Eu devia ter comprado antes..."
"Não. Não foi culpa sua, aconteceu algum erro no sistema, a compra foi cancelada e não conseguimos comprar há tempos, só isso. Acontece!"
Perdemos o evento que esperava desde o ano passado. Viajei de Minas Gerais até São Paulo pra, na véspera cancelarem a compra do meu ingresso. Agora, não existiam mais ingressos via online e nem via bilheteria. Tudo esgotado.
Mas a esperança é a última que morre: resolvi sondar a entrada do show. Talvez possa ter algum cambista vendendo ingressos, mais caros do que o preço normal, mas pelo menos eu conseguiria entrar. Essa idéia fora um tanto quanto desgastante. Gastar tempo, gasolina, estacionamento para ir ao local do evento e ainda ter a chance de não conseguir entrar. Sem contar que metade da turma desistira de ir por causa do preço (as meias entradas só poderiam ser compradas pela internet).
Chegamos. Nada de cambista.
"Pessoal, vamos embora." eu disse.
"Não! Tenho um plano..."
Chegamos na entrada da platéia com ingressos comprados online. Algumas casas ao invés de enviar o bilhete pelo correio, pedem que você mostre o comprovante e o número da compra e apresente seus documentos. Assim, deixam você entrar com uma pulseira especial. Modernidade. Entramos e explicamos a situação, falamos sobre o erro da compra.
"Olhem" disse o funcionário. "Eu não sei..."
"O que você não sabe, amigo? Vocês erraram!"
"Façam assim:" ele começou a falar com uma voz baixa. "peguem esse envelope, coloquem o dinheiro das cinco entradas e voltem aqui."
Conseguimos. Peguei a carteira para lhe dar o dinheiro.
"Não faça isso! Tire a mão do bolso!" de repente, o funcionário se exaltou. "Posso perder meu emprego. Vão dar uma volta, peguem o dinheiro longe daqui e tragam o envelope fechado com ele. Ok?"
Viramos e saímos andando como se nada tivesse acontecido.
"Olhem" disse ele mais uma vez, agora em voz alta. "Voltem com os documentos, pois só com eles eu posso liberar a entrada, ok?"
É claro, ele estava apenas disfarçando a conduta. É claro que também ele ia lucrar a grana daquelas cinco entradas. Não havia forma de declarar que pagamos, afinal, os ingressos estavam esgotados.
Enfim, economizamos cem reais cada. Fomos comer pizza.

Um comentário:

  1. Ixi!! Bem.. o dinheiro movimenta o mundo, né? Na boa, é impossível viver sem, e aqui no Brasil, você trabalha MUITOOOO, se DOA MUUUITO, pra receber pouco! Acho que essa é uma das circunstancias, a mais forte, que insentiva esse tipo de atitude! Se você tivesse a oportunidade, vc faria o mesmo? Olha, isso vai TOTALMENTE fora dos meus principios, vai mesmo, porém, dependendo da situação de cada pessoa, ela se submete a tudo por questão de sobrevivência! E sobreviver está acima de tudo! Agora, cada caso é cada caso... Pode ser total má indole da pessoa, ambiciosidade e tudo. Tem o lance da educação tmb...falta de ética e de moral, a formação de cada cidadão como um civil. É complexo, me divertiria muito com vc durante horas num bar... desculpe ter que parar aqui.

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