5 de maio de 2010

Leito de Morte

Hoje eu vou morrer.
Deixei uma carta em meu criado-mudo (que nome esquisito para se dar à um móvel, não?). Nela escrevi as instruções sobre o que fazer com todos os meus bens. Depois de resolverem essa basbaquice de documentação pós-vida: o atestado de óbito, inventário e etecétera, peguem a carta e façam tudo o que pedi. Não quero mais falar sobre o que ficou. Bens materiais todos vocês têm de sobra. Quero falar agora o porque da minha morte. 
Há anos, dia após dia, vim travando uma grande batalha comigo mesmo. Aceitar meus erros, me culpar por tudo aquilo que deveria ter feito diferente, encarar as conseqüências (boas e ruins) de cada atitude em vida, perceber que aquela barriga maldita era, sim!, culpa minha, sem falar dos ovos fritos, do cigarro e da Coca-Cola. Resumindo, vivi uma luta paradoxal entre crer ou não crer na vida. Eis a questão!
Vou morrer!, fato. Perdi a batalha, perdi a guerra. Não consigo crer. Não consigo aceitar. Não consigo lidar com nenhuma das questões que me deixaram aflito. Mas ao menos aprendi uma lição: o difícil mesmo é ser humano.

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