Era uma noite quente de abril. Dirigia dentro da velocidade máxima permitida naquela avenida. Com os vidros abertos, é claro, para os cabelos esvoaçarem. Paro no semáforo.
"Olá!" disseram duas garotas no carro ao lado.
Disseram pra quem? Estavam olhando pra mim. Sim! Mas isso significa que o papo era comigo? Olho para o lado oposto, nenhum outro carro. Ao lado do carro delas também: nenhum outro veículo. Bom... deve ser comigo!
"O..." o semáforo abrira e seu carro já havia partido.
Dizem que o pensamento é a coisa mais rápida do mundo, mas desta vez não foi. Tentei alcançá-las com meu passat 72 sem sucesso, pois havia refletido sobre seus olá por muito tempo.
Passo o limite, ultrapasso, desvio do buraco... até que surge outro semáforo.
"Olá" agora sim! Consegui dizer.
"Olá" disseram outra vez e caíram na risada.
"Qual seu nome?" perguntei pra garota que estava no banco do passageiro.
"Rita, e o seu?"
"Roberto"
Semáforo abre. Mas desta vez não podia deixar passar. Igualei a velocidade de nossos carros, e andamos lado a lado.
"O que faz da vida, Rita?"
"Sou vendedora"
"Vendedora de que?"
"De chocolates"
"Adoro chocolate"
"Quer um pouco?"
Esses não eram meus planos, mas enfim... época de Páscoa, domingo à noite, noite quente, duas amigas (não, isso nunca aconteceria), dois carros, uma avenida movimentada de São Paulo... por que não?
"Claro!"
A moça abaixou, pegou vários ovos de chocolate e disse "Não vai deixar cair, hein!?". Aproximaram o carro em movimento e a garota me deu todos os chocolates.
"Feliz Páscoa!" disseram. Nunca mais as vi.
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