9 de agosto de 2009

Valores

"Amigo, quanto custa o amendoim?"
"Dois reais, patrão!"
"Que roubo! No outro farol, tinha uma moça vendendo a um real..."
"É o preço de não ter sido esperto o suficiente pra ter comprado lá! Vai um?"
Qual é o valor daquela fome inesperada no meio do trânsito? Era o que sua mente rancorosa pensava. A vontade era responder à altura, descontar a resposta atravessada que recebeu, se vingar pelo desaforo inesperado... Mas não. Os pudores sociais, os valores herdados de seus pais, a boa educação, a sua formação além de não permitir tal fato, o tornara uma pessoa tolerante.
"Não obrigado."
Esperou o semáforo abrir, seguiu caminho e comprou um chocolate na próxima esquina sem questionar o preço.
Tolerava qualquer resposta, qualquer desavença, qualquer fato indesejado por não suportar a idéia de extrapolar um limite aceito pelos outros. "Qualquer coisa que eu faça me deixaria sem razão: um xingamento, uma agressão, uma humilhação desnecessária, um gesto..." Afinal, para quê tudo isso? Desta vida urbana e estressada, só haviam duas certezas: a de que um dia ia morrer, e de que a gastrite nervosa era seu maior presente do presente.
Aliás, qual é o valor da sua tranquilidade?

2 comentários:

  1. HAHAHAHA OLHA VC ACHANDO QUE É UM COMENTÁRIO DE NOVO!!!! seu gay

    =)

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  2. Achei este post a sua cara...o seu tom! Descrição de aspectos cotidianos, com um "cutucão" ao final.

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