24 de junho de 2009

Pelo buraco da porta

"Olá!" Era uma boa maneira de começar um diálogo, premeditei.
"Olá..." Respondeu ele, num tom de desconfiança.
Peguei primeiramente os itens que sabia poder pagar e fui passando-os para o rapaz do caixa. A caixa de nuggets, o requeijão, o refrigerante de guaraná, o pacote de batatas-palha, o arroz, os tomates. Deixei aqueles produtos por último. Me sentiria muito desconfortável se ele percebesse.
Para uma madrugada de quinta-feira o supermercado estava cheio. O relógio analógico marcava uma hora e trinta e dois minutos. A fila do caixa-rápido estava lenta e cheia, como sempre. Nas prateleiras, a novela, o futebol e as mulheres nuas da moda pediam para ser comprados. No ar ao redor da fila, a festa e a rotina saiam como que automaticamente cuspidas por robôs programados.
Felizmente consegui pagar os últimos itens. São raras as vezes que me dou o luxo de colocar os produtos na cesta sem ao menos me preocupar com as contas. O livro, os tubinhos de morango, a caixa de DVDs vieram para casa comigo.
As vezes diante de tantas coisas normais, olho ao redor e me sinto estranho. Mal as vezes. Consigo ver nos carrinhos alheios a garrafa de aguardente, a carne para o churrasco, o pacote de papel-higiênico. Coisas de um cotidiano comum. De um ponto de vista um tanto quanto introspectivo penso: para quê tanta futilidade? Como todo e qualquer ser humano, me sinto mais, menos, maior, menor... E me esqueço que do outro lado, estão pensando (no mínimo) o mesmo.
"Nota fiscal paulista, senhor?"
"Desculpe... não precisa. Obrigado!" Respondi, sem graça. Tem horas que o pensamento vaga, longe e sem direção. Uma vez ouvi dizer que a interpretação dos fatos é uma visão estreita e distorcida da realidade, como o anfitrião olhando pelo buraco da porta os seus convidados chegarem. Desta forma, mas com muito senso crítico e com muita vontade de ser o mais nú e crú possível, com o intuito de registrar as viagens de uma mente qualquer (no caso, a minha), com muito orgulho e com quase nenhum leitor que dou início a este blog!

2 comentários:

  1. E pelo, outro, buraco da porta vejo uma mente brilhante interpretando a vida, os fatos, o cotidiano!

    Ah!Gostei das suas compras, quer dividir o carrinho comigo?

    Nenhuma leitora

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