Havia assistido um filme assim: um homem saia de casa, comprava uma metralhadora no mercado negro, entrava em um cinema e matava centena de inocentes com uma só rajada de projéteis. Por que não fazer o mesmo?, pensei. Afinal, eu estava querendo mesmo uma experiência inovadora.
Eu era psiquiatra. Não, não estava louco quando fiz isso. Inclusive tinha em mãos o laudo do meu último check-up comprovando minha sanidade mental. A experiência era pra conhecer sensações e estados de espírito nunca antes relatados na literatura científica. Talvez por falta de amostras, talvez por mero bom senso.
Saí de casa pela manhã daquele 15 de agosto cinzento. Encontrei um rapaz no bar do Moura que me levou até o negociante de armas frias. Um lugar gélido situado por entre alguns becos inimagináveis da cidade. A sala da casa do sujeito era toda revestida de azulejos amarelo claro, daqueles quadrados da década de setenta. O negociante, vestia um casaco pesado de sarja, bermuda e chinelo de dedos azul e branco e tinha uma barba por fazer que não nos deixava perceber os traços em sua face.
"O que veio procurar?"
"Indicação do amigo do Moura." respondi.
"Certo. Tenho 32, 38 cano curto e cano longo, 9 milímetros..."
"Nada disso! Eu quero uma metralhadora?"
O homem colocou a mão na cintura, provavelmente havia engatilhado sua arma.
"Quem mandou você aqui? Cê é polícia, meu irmão?"
Apenas mostrei o dinheiro pra que ele soltasse a arma e baixasse a voz. Portar uma mini-Uzi é muito diferente do que sair com um estilingue, um canivete ou mesmo um revolver na cintura. A sensação é de que você está numa guerra pronto pra ser pego de surpresa por um sniper. Qualquer motor de carro ou caminhão se transforma numa granada explodindo perto de você.
Quando se tem poder, tudo vira alvo. Facilmente você imagina a cabeça de uma pessoa estourando e os pedacinhos de miolos voando por todos os lados. Qualquer olhar feio que você recebe vira motivo de colocar um projétil no peito do vagabundo que o lançou.
Enfim, as vítimas.
"Uma entrada pra sessão das quinze horas de Harry Poter, por favor."
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