28 de agosto de 2010

Opção

Parece engraçado, mas é a verdade. Sou assim por opção. Chamam-me de mendigo por não ter onde morar, por não ter uma família, por não ter um emprego, amigos, roupas, etecétera. Mas não sou assim por não ter tido oportunidades na vida. Pelo contrário.
Tudo começou quando fiquei irritado com meu terceiro emprego. Era professor da rede pública de ensino. Sempre soube que o trabalho era péssimo porque os alunos não querem aprender e, talvez por esse mesmo motivo, o sistema também não ajudara. Isso se parecia muito com o paradigma do ovo e da galinha, nunca saberemos qual das duas sentenças surgiu primeiramente. Justamente por isso, resolvi aceitar o desafio e quis mudar.
Fali com os meus princípios. Não mudei o sistema, tampouco o interesse dos alunos. Me parece que ninguém, a não ser eu e mais meia dúzia de três ou quatro que se formaram comigo realmente gostam de filosofia nos tempos de hoje.
Eu era formado em medicina quando tive interesse em filosofia. Ganhei muito dinheiro e resolvi fazer minha segunda graduação. Ao todo passei nove anos no ensino superior. Tempo suficiente pra me revoltar contra o sistema. Pela segunda vez, é claro, pois todo adolescente um dia se revolta com o sistema.
Depois das minhas experiências profissionais, em especial essa última, resolvi abandonar o sistema. "Não ser" um capitalista. Dizem ser impossível. Dizem ser necessário entrar na natureza selvagem para o conseguir. Mas eu aproveitei bem as oportunidades da cidade. Sou urbano, gosto de ver ruas cheias, gente esquisita passando. Vivo pelas ruas de São Paulo.
Adoro a Augusta em especial. Todos os dias caminho até lá para ver as garotas e garotos todos tatoados. Depois, caminho até a zona norte, onde consigo alimento em algumas praças. Não guardo carros e nem peço dinheiro no farol. Apenas colho algumas frutas frescas em algumas árvores. À noite eu costumo cultivar algumas pequenas plantações em um espaço cedido por um dos poucos amigos, tudo escondido. Pois para a prefeitura, "intervir" em um local público como uma praça, é crime.
Enfim, vivo a vida como ela me é. A vida é. Apenas. Capitalista, comunista, socialista ou miserável ela apenas é. Com suas vantagens e desvantagens de ser.

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