Alô, Rodrigo?

Amanhã é domingo. Dia de igreja. Vou acordar, tomar um café bem forte, fazer a barba, vestir minha roupa esporte, ir à missa e depois ao almoço de família. Por isso, vou dormir cedo.

Vejo minha mãe todos os dias. Depois que casei passei a morar em outra casa. Diferente de meu irmão que construiu uma casa no mesmo terreno que a casa de meus pais. A vida aqui nessa cidade de interior é assim: tranqüila como todo bom brasileiro pede a Deus. Nos dias de semana, vou ao trabalho a pé, deixo as crianças nas escola, vou almoçar em casa com a patroa, volto pro trabalho e, depois, passo na casa da mama pra tomar um café.

Bom, por hoje chega. Desligo a TV depois da nossa dose diária de diversão. Zorra Total é um programa demais. Eu adoro aquela mulher que fala errado, todos no trabalho gostam dela. Dou um beijo de boa noite na minha amada e pronto.

Toca o telefone.

"Alô?" atendo assustado, pois o número era desconhecido.

"Alô! Quem fala?"

"É o Rodrigo... mas quem é?"

"Aqui é a Marcela. É o seguinte Rodrigo: qual é o número do seu telefone?"

"É meia-dois-quatro-sete-sete-zero-zero-um, mas por que você tá perguntando isso?"

"Desculpa, mas esse número de celular é meu! Sabe, minha bolsa estava aberta e meu celular não está mais lá..."

"Que isso, moça? O que você tá querendo dizer? Eu comprei ele na loja aqui..."

"Não acha que é coincidência? Eu tava numa festa, de repente ele some..."

"Eu tenho nota!"

"... então me diz, qual o DDD dele? É onze?"

"É sim!"

"Em qual cidade você mora?"

"Em Indaiatuba."

"Então como você mora em Indaiatuba, compra um celular em Indaiatuba e tem um DDD onze?"

"Mas moça, quando eu comprei a vendedora não me explicou nada disso..."

Desligaram o telefone. Que história mais doida. Posso voltar a dormir.

Do outro lado. Abro pela trigésima quarta vez a bolsa. Batom, carteira, caixinha das lentes, soro, nécessaire, chaves, crachá, celular... celular? Ai não!

"Alô, Rodrigo? É a Marcela... desculpa, é uma longa história..."